25 de ago. de 2010

Iniciando uma vida

Acordou na expectativa, hoje seria o dia que tanto ansiara: reencontrar seu amor, planejara cada momento do dia antecipadamente, as palavras que diria, e as palavras que supostamente Rodrigo escolheria. Penteou-se, maquilou-se e vestiu-se cuidadosamente, olhando-se no espelho pensou, “Não pareço ter mais de 70, bem como o Rodrigo me disse na ultima vez que nos encontramos.” Tomou ares altivos e ganhou a rua, rumou ao ponto de taxi, tomou o taxi e enquanto ia sendo conduzida pensava em Rodrigo, em seu sorriso, seu jeito gentil de dizer as coisas, há um ano atrás não imaginaria que em sua idade poderia apaixonar-se e ser amada novamente. Já era viúva há 10 anos e já havia se conformado com o destino que só poderia convergir em único fim comum a todos, mas então Rodrigo aparecera e tornara tudo aquilo tão suportável e a fizera ver que precisava viver enquanto Deus não lhe levasse. Stop, o táxi parou de chofre ela não percebeu que já havia chegado ao destino indicado, desceu, olhou o prédio alto, e não muito luxuoso, andava tão cheia de energia que os outros jamais desconfiariam quantas vezes precisava ir ali por mês... Ah o amor.
Subiu as escadas cautelosamente, rumou a recepção, não gostava da atendente, olhou-a com certa arrogância, a atendente ignorou ou não notou os olhares de esguelhas que lhe eram lançados, friamente pediu que esperasse, a velha sentou-se resignadamente, afinal estava feliz, veria Rodrigo, e isso valia tudo, até a humilhação não ser tão bonita e jovem como aquela atendente mequetrefe. Foi interrompida em suas reflexões pela própria atendente que lhe indicava a porta a entrar. A velha sorriu, não para a moça, mas para si, estava prestes a vê-lo. O coração acelerou, ela caminhava devagar e entrou na sala limpa e iluminada e onde ele a esperava sorrindo, levantou-se para recebê-la, nos devaneios da velha seria um abraço caloroso e um beijo apaixonado, a voz doce de Rodrigo cortou o clímax:
- Dona Vera o que faz aqui de novo, quantas vezes já lhe disse que a senhora está ótima!
A velha tentou disfarçar a frustração da recepção, sentou e disse com a voz mais languida que conseguiu dissimular:
- Ah doutor Rodrigo! Tenho sofrido com uma dor nas pernas ultimamente... Nem sequer consegui dormir direito essa noite...
O médico com educação e simpatia técnica, cansado e pensando na pensão dos filhos que estava atrasada e nas ameaças da ex-mulher, disse sorrindo:
- Não será coisa da tua cabeça Dona Vera? A senhora precisa distrair-se, passear...
O coração de Vera voltou a iluminar-se, afinal então quer dizer que ele se preocupava com ela, mas não podia se entregar tão rápido:
- Eu bem queria Doutor, mas essas dores não me deixam viver o resto da minha vida em paz...

Bruna A. 25/08/2.010

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