7 de nov. de 2010

De dar água na boca

Valéria era magra, quase seca. Não sabia cozinhar, era um desastre em tudo. Quando não queimava, salgava ou ficava cru. Seu marido, típico sujeito grosseiro e sujo. Ele chegava às pressas como um touro morto de fome. Enchia o prato, mas quando levava a boca, sentia o pior sabor que seu paladar poderia sentir. Amargo, queimado, salgado e meio cru.
Ele levantava e logo dava um bofete na mulher de virá-la no chão. Valéria, não chorava, nem reclamava, apenas levantava e jogava tudo fora. Tudo sempre clichê, a clausura de sua impotência todos os dias. Haveria de algum dia um clímax acontecer?
Como de costume, seu marido chegou como um touro morto de fome, desta vez algo novo. Uma panela cheia de arroz, mas não um arroz qualquer, uma receita nova. Ariovaldo a olhou por cima, sentou-se. Suas unhas podres e a falta de dentes em sua boca eram abomináveis. A ausência de humanidade era tão precária, que começou a comer com as mãos, um verdadeiro animalesco. Uma pausa. Valéria inspira. Ariovaldo cai. Valéria respira. Ariovaldo tem uma convulsão. Valéria levanta, Ariovaldo morre!
O vidro de soda caustica estava no lixo. Um bilhete havia sido deixado em cima da mesa. “Querido, desta vez acertei na receita, o sabor estava de matar.”

Danillo Amaral 07-11-2.010

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